Procuras
Procurei o amor nas ruas sombrias que enalteciam os ébrios em seus devaneios
Procurei o amor nos lençóis amarfanhados dos imortais amantes camonescos
Procurei o amor em moinhos de ventos dantescos em sonhos quixotescos
Procurei-o- ainda nas modernas odes e elegias do tão falado romanesco.
Não o encontrei nos becos submundos das fantasias lúgubres febris
Nem nas quimeras forjadas pelos sonhos débis de cantigas primaveris
Ainda sequer o senti nas tão faladas cantigas de amores enaltecidas
Tão pouco pude vê-lo nas bocas sedentas de carinho deste mundo corrompido
Fatigada pela busca incesante de sentimento tão estranho que comove montes
Que é causa das mais assombrosas possessões justificadas pela insanidade mórbida
Da passionalidade dos cativos de tão avassaladora cumplicidade que ensandece e mata
Não consegui vislumbrá-lo ao menos na tênue esperança de de entendê-lo....
Encontrei-o nos entanto na mãe muda diante da morbidez rígida do filho que sucumbe
Senti-o com tal fúria nos lábios anônimos dos que pelejam na oração frenética pela paz
Pude tocá-lo na pureza do riso ingênuo do impúbere que desatina ao braços do pai
Mas, não houve veracidade maior de sua existência aos meus incrédulos olhos mortais
Do que aludir em teus olhos escuros e macios , em tuas saudades, teus ais
O brilho de meu vulto esguio a te guiar como a um cais
Onde esperas na sublime e áureo na lacuna do templo que se vai
O momento exato em que fundir-se-á ao meu numa explosão sem igual....
GILDA GONSALES